Por Fábio Sormani
Foi noticiado no UOL que o atacante Ângelo procurou um psicólogo para “lidar com a pressão durante essa crise do Santos”. Achei bem interessante.
Procurei meu velho amigo Olivério Júnior, que faz a assessoria para o atacante santista, e ele me disse que o psicólogo que o Ângelo está recorrendo tem a ver com “performance”. “O (psicólogo) dele não é um psicólogo desses que as pessoas vão por problemas. (O dele) É para melhorar a performance, a concentração. São profissionais diferentes. Esses psicólogos aí (que o Ângelo está recorrendo) não são iguais aos outros. Eles só trabalham… Tem uma psicóloga em Santos, que eu conheço, ela só trabalha a performance do cara. Não tem nenhuma outra questão. Esse psicólogo não é aquele que ‘olha’… você fala assim, que o cara está indo ao psicólogo, parece que o cara está tendo problema. Não, não; não é porque ele está tendo um problema, é para ele melhorar aquilo que ele faz. Aí (caso do Ângelo) estamos falando em performance”.
Bom, confesso que não sou expert no assunto, mas eu acho pouco provável que um psicólogo vá trabalhar a melhora de uma pessoa em sua atividade sem falar de seus traumas, de seus medos, de seus anseios e de suas ansiedades, por exemplo. O psicólogo não é um profissional de futebol para dar orientações sobre como bater na bola, executar um drible, fazer um cruzamento ou dar um passe curto e/ou longo, acompanhar avanços dos laterais, fazer ultrapassagem etc.
É impossível, penso eu, um psicólogo melhorar a performance técnica de um jogador se não lidar com os componentes que mencionei acima: traumas, medos, anseios, ansiedades, expectativas etc. E isso é tratado com qualquer pessoa que procure um psicólogo, não importa o motivo, não importa a profissão, seja ela jogador de futebol ou jornalista.
Se o Ângelo quer melhorar a sua performance (e eu acho demais ele procurar respostas para os seus problemas), ele tem que tratar desses sentimentos. Por isso acho muito importante esse passo que o Ângelo está dando.
Ele é uma criança de apenas 18 anos. Foi jogado aos leões sem o menor cuidado por parte do clube. Pulou etapas, passou a viver com adultos e não mais com crianças, seus assuntos na mesa das refeições mudaram da noite para o dia, suas cobranças passaram a ser maiores, as arquibancadas, que estavam então vazias, hoje tem um público exigente e que está carente de resultados há duas temporadas e, por isso mesmo, está feroz e a mídia, que inexistia em sua vida, passou a existir e a exigir.
Quando foi substituído no empate contra o Água Santa, Ângelo foi xingado por torcedores e revidou o xingamento. Errou? Errou; mas errou também quem o xingou, pois campo de futebol não é divã de psicanalistas. O torcedor tem que entender que ele não tem o direito de xingar ninguém só porque pagou ingresso. Ele tem direito de vaiar, mas agredir verbalmente esse direito ele não tem. Infelizmente (e com o apoio da mídia), o torcedor se acha no direito de xingar os jogadores.
Ao procurar um psicólogo, Ângelo vai tentar encontrar com o profissional que estuda a mente e o comportamento humano ferramentas para lidar com essa pressão — algo que o clube deveria ter feito e não fez. E isso não é “privilégio” do Santos. Até onde eu sei, nenhum clube tem esse tipo de preocupação: zelar pela mente de seus jovens atletas quando eles dão o salto da base para o time de cima.
Há clubes que têm psicólogos, mas não são todos. E eles nem estão em tempo integral com os jogadores. Acho até que nem viajam ou concentram com o time. E a seleção brasileira, que esteve no Catar, abriu mão desse profissional, não se esqueçam.
Jogadores do basquete universitário nos EUA quando são recrutados por times da NBA passam por um período de orientações em um resort (era na Flórida, não sei se ainda continua sendo lá) para lidar com a profunda mudança que haverá em suas vidas. E nessa clínica há vários profissionais: desde o psicólogo até o consultor financeiro, que vai te orientar a lidar com os milhões de dólares que o jovem irá receber por estar entrando em um mundo milionário como o da NBA.
O futebol e a sociedade de uma maneira geral não se preocupam com as doenças da mente. E elas são tratáveis; e quando isso ocorre tudo na vida melhora. E no caso do Ângelo a performance em campo.
Achei ótimo o Ângelo ter tido a lucidez de procurar um psicólogo. Dá o passo mais importante de sua carreira até o momento.
Uma resposta para “Ao procurar um psicólogo Ângelo dá o passo mais importante de sua carreira”
Importante e elogiável essa atitude de buscar apoio psicológico. Deveria ter sido uma ação do próprio clube desde o início. Mas que faaaaase hein? Às vésperas do clássico com o melhor time do país Carabajal, que vinha subindo de produção e dando alguma esperança, se contunde. O Soteldo não deve mais jogar até o fim do contrato. Será comprado? Mais o imbroglio do Lucas Lima, vem não vem. E o Raniel? Por que não colocá-lo pra jogar? Parece que não foi tão mal no Vasco. Já que não tem tu, vai tu mesmo.
CurtirCurtido por 1 pessoa