Por Fábio Sormani

A NBA está discutindo um novo acordo com a NBPA (o sindicato dos jogadores). Esse acordo, diga-se, está muito perto de ser concluído. É importante dizer que, sem ele, não tem campeonato.

O acordo tem que ser bom para os times e para os atletas. Ou seja: nada é imposto, nada vem de cima para baixo. Tudo é discutido. Os jogadores são unidos e têm muita força na NBA.

Esse novo acordo terá duração de sete anos. Pode ser, todavia, rompido pelas partes no último ano.

Alguns pontos chamam a atenção:

1) Vai ser criada a Copa da NBA (algo como a Copa do Brasil), mas com pouquíssimos jogos que, inclusive, contarão na classificação da temporada regular. Pra que ela seja viável, vai ser diminuído de 82 para 80 o número de jogos de cada equipe durante a fase de classificação. Cada jogador que participar da Copa da NBA vai receber USD 500 mil;

2) A maconha não será mais considerada substância proibida nos exames antidoping realizados pela liga. Foi uma exigência dos jogadores e a liga aceitou. É bom dizer que 23 dos 50 estados americanos, sem contar o Distrito de Colúmbia (o Distrito Federal dos EUA), além do território de Guam (uma pequena ilha no Pacífico) o consumo da maconha, a plantação e o comércio regulado da cannabis é legal;

3) Agora vem o mais importante na minha opinião: a nova Luxury Tax. Essa Luxury Tax é uma espécie de multa que os times pagam para a NBA por estourarem o teto salarial. Ou seja: o teto salarial funciona até a página 9, pois é possível ultrapassá-lo, mas, repito, para isso, você paga de multa USD 2,50 para cada dólar ultrapassado. Com o novo acordo, quem ultrapassar, além da multa, pode ter o número de trocas reduzido.

Excelente! Assim como no futebol, existem na NBA os times mais ricos e os mais pobres. Os mais ricos estão se lixando para a Luxury Tax. Eles pagam a penalidade e ponto final. Com isso, conseguem montar timaços, enquanto que franquias mais pobres não têm essa possibilidade porque… são pobres. Ao limitar as trocas, a NBA tira desses times a vantagem financeira que eles têm, o que ajuda a nivelar o campeonato.

Isso poderia ser feito no futebol. De que maneira? É preciso sentar-se à mesa e discutir a questão, mas isso que está sendo feito na NBA poderia ser um ponto de partida para o futebol.

Do jeito que está indo (no mundo inteiro, inclusive no Brasil), está ficando cada vez mais impossível existirem as zebras no futebol. A diferença dos ricos para os pobres está cada vez maior. Se nada for feito, em dez anos teremos dois, três times brigando por campeonatos aqui no Brasil e os demais chupando o dedo.

O futebol é o que é por conta da sua imprevisibilidade, por ser democrático, por possibilitar ao pequeno surpreender o grande. O campeonato de pontos corridos já se encarregou de acabar com isso (é impossível para um time pequeno ser campeão porque ele não tem elenco — e consequentemente fôlego — para desafiar os times de elite). E a distribuição do dinheiro arrecadado com a televisão (a maior fatia do bolo) está desnivelando ainda mais as equipes.

Querem ser ricas? Que sejam, mas haverá um limite de gastos e até de compras para que se encontre novamente a paridade perdida por conta do mercantilismo que tomou conta do futebol nos dias de hoje.