Por Fábio Sormani

Foi disparadamente a melhor decisão estadual do Brasil. Esse Fla-Flu começou com cara do Flamengo e terminou com o rosto do Fluminense. E carregado nas cores grená, verde e branca de um jeito que teria a aprovação de Van Gogh.

Foi um jogaço este deste domingo (09/04). O Flu enfiou 4-1 no Flamengo jogando bola, se impondo, mostrando que o que aconteceu no primeiro confronto (vitória do Fla por 2-0) foi apenas um acidente de percurso — desculpem o clichê. O Tricolor é mais time que o Rubro-Negro. Felizmente desta vez o futebol não foi vitima; fez vítima.

Não que seja o caso, mas nem é preciso de muito para ser melhor que o Flamengo. O Flamengo hoje é uma bagunça só. Mais uma vez seus dirigentes se encarregaram de jogar o primeiro semestre no lixo. O time disputou cinco taças e perdeu todas!

Primeiro foi a Supercopa do Brasil (foi batido pelo Palmeiras), em seguida o Mundial de Clubes (nem chegou à final), na sequência veio a Recopa Sul-Americana (foi superado pelo Del Valle do Equador), depois a Taça Guanabara (viu o Fluminense ser campeão) e neste domingo assistiu novamente seu tradicional rival levantar outro troféu nas suas barbas.

O Flamengo colhe o que plantou; colhe frutos amargos, pois Rodolfo Landim assistiu, novamente passivo, Marcos Braz e Bruno Spindel destruir um trabalho. Tem sido assim todos os anos. O Flamengo não dá sequência aos trabalhos. Pior, não dá sequência aos trabalhos vencedores! O último foi com Dorival Júnior, que ganhou no ano passado a Libertadores e a Copa do Brasil e mesmo assim recebeu um bico nos fundilhos.

Mas o momento é do Fluminense. É dele que se tem de falar.

O time segue encantador. Não, não é um Barcelona, que SEMPRE jogava bem. O Flu tem seus altos e baixos, mas os altos são muito mais frequentes, e o são de forma deleitante. Dá prazer ver o time de Fernando Diniz jogar.

O Tricolor das Laranjeiras não se intimida com ninguém. Respeita, mas não se deixa intimidar. O Palmeiras de Abel Ferreira, por exemplo, se deixou intimidar pelo Chelsea na final do Mundial de Clubes no ano passado. Eu duvido que Fernando Diniz teria um comportamento semelhante.

Respeitar, sempre; temer, jamais.

Eu gostaria muito que o Fluminense ganhasse a Libertadores e fosse ao Mundial. Sim, gostaria porque tenho a sensação de que ele poderia fazer um jogo equilibrado com o campeão europeu, jogando bola. não especulando ou tentando vencer num lance fortuito.

Diniz é estudioso. E astuto. Ele estudaria o jogo de uma hipotética final contra o campeão da Champions traçando planos para ser campeão e não para perder de pouco. Abel fez isso ano passado. Foi covarde diante do Chelsea numa partida que o Palmeiras poderia ter vencido. Foi uma chance e tanto jogada no lixo.

Isso, creio eu, não aconteceria com Diniz. Seu Fluminense poderia até perder, mas não ficaria acuado nas cordas, suportando as porradas tentando levar a luta para a decisão por pontos. Seu Fluminense pelejaria, como peleja em todos os jogos que participa. E às vezes perde, mas tem mais vencido do que perdido.

O Palmeiras é, NO MOMENTO, o melhor time do Brasil, mas o time que mais me encanta é o Fluminense.

Há alguns textos eu disse que a vitória do Flamengo no Carioca seria a derrota do futebol brasileiro. Hoje eu posso escrever, feliz, que a vitória do Fluminense é a vitória do futebol brasileiro.

Nós precisamos de Dinizes e não de Pereiras, nem de Ancelottis, nem de Tites. Precisamos de Dinizes, de Guardiolas, Flicks e Klopps. Precisamos de gente que goste do futebol e não o trate com pragmatismo, apenas como um emprego onde se vai trabalhar e quando o relógio bate 17h levanta-se da cadeira, bate-se o ponto e vai-se para casa.

Futebol não pode ser tratado como um trabalho burocrático. Futebol é muito mais do que isso. O futebol é apaixonante e o fogo de uma paixão não pode ser apagado jamais, como os Tites da vida tentam fazer o tempo todo.

Por isso, penso eu, se a gente quiser recuperar nosso posto de melhor futebol do mundo, se a gente quiser ser feliz novamente — e eu tenho certeza de que queremos isso — temos que pensar fora da caixinha. E pensar em Diniz é pensar no único treinador brasileiro que pensa fora da caixinha.