Por Fábio Sormani
Deixa eu contar uma coisa pra vocês. Vou contar como eu me tornei torcedor do Santos. A história é curta, rapidinha de ser dita.
Seguinte: se eu fosse levar em consideração as minhas raízes italianas, seria palmeirense; se fosse seguir os passos do meu pai, são-paulino; e se fosse atender o desejo do meu avô materno, corintiano.
Acontece que eu tinha mais ou menos cinco anos à época e naquele tempo havia um preto que jogava bola e que ficava ainda mais preto com aquele uniforme todinho branco. Mas o contraste terminava aí, pois entre ele e a bola o que havia era um caso de amor jamais superado em toda a história do futebol. Era uma relação idílica. Os dois se amavam demais. E eu, pivete, vendo aquela história sendo contada, permiti que ela me levasse sem me importar para onde ia, pois havia aquela certeza infantil de que terminaria como num conto de fadas. Não fechei, pois, olhos e ouvidos; ao contrário, aquela narrativa cujo personagem principal atendia pelo nome de Pelé me fez sonhar e a amar o futebol. Educou-me.
Por isso virei santista. Virei santista por causa do Pelé e daquela equipe fantástica do Santos. Que sentido havia torcer para qualquer outro time se eu podia escolher entrar naquele mundo mágico?
Fui forjado no amor ao jogo, à bola, ao refinamento, ao espetáculo grandioso, à arte. Não escolhi o time por interferência de alguém. Eu entrei no mundo do futebol pelo encantamento daquela equipe liderada por Pelé. Futebol, para mim, desde que eu tinha cinco anos de idade, significa isso: amor ao jogo.
Conto isso porque aqueles que como eu foram edificados para o futebol a partir da ideia da paixão, do espetáculo, da poesia, hoje em dia deixa-se levar pelo que o Fluminense faz. Nós, membros dessa confraria, somos tricolores, não porque torcemos pelo Fluminense, mas porque o que o time do Fernando Diniz faz é resgatar o princípio do jogo, seu lado lúdico, o divertimento, o encanto, a graça, a beleza.
Já disse várias vezes e torno a dizer: torço para o Fluminense ganhar tudo o que disputar porque seria o resgate do futebol na sua essência, do ludopédio, que ao longo dos tempos tem sido maculado por vilões que procuram desconstruir o jogo através de retrancas, compactação defensiva, ônibus estacionado na frente do gol e o que mais você quiser dizer referindo-se à essa praga que quer acabar com o prazer de se ver um jogo de futebol.
Por isso, quando o Fluminense foi campeão carioca eu disse: foi a vitória do futebol. Ontem (02/05), quando o tricolor amassou o poderoso River Plate da Argentina no Maracanã fazendo 5-1, novamente o esporte bretão saiu de campo vencedor. E enquanto esse time ganhar, a cortina jamais será fechada.
Que essa semente que Diniz está plantando neste momento frutifique e se espalhe pelos campos de futebol do nosso país, que um dia foi chamado como o país do futebol, mas que desde que passou a se europeirizar não ganhou mais de ninguém.
O futebol foi criado na Inglaterra, mas cresceu no Brasil. Aqui ele se tornou gente.
E o Fluminense aparece como num conto de fadas.
12 respostas para “Fluminense é o resgate do ludopédio; o futebol ainda respira”
Bom dia Sormani!
Parabéns por este depoimento!!!
Minha história é mais ou menos parecida, filho, irmão, sobrinho, primo dentro de uma família quase toda ela corinthiana, um ou outro desgarrado, palmeirenses e são paulinos.
Comecei a olhar para o futebol quando surgia o Pelé, mas o que mais me encantava era aquele time todo de branco, jogando bola como se estivesse brincando e se divertindo, nos anos 60 eles não saudavam a torcida levantando os braços mas sim fazendo uma reverência, curvando-se tal como um virtuose das artes, e eles eram sim um grupo de virtuose, era mágico assistir aquele time.
A elegância de Pagão e Mauro, a imponência de Joel Camargo e Zito, a simplicidade e facilidade de tocar a bola de Calvet e Mengálvio, o portentoso e ao mesmo tempo elegante Pepe, a acuidade e precisão de Coutinho, Dele não existem palavras e frases para defini-lo, reunia num só jogador todas as qualidades que fazem do jogador de futebol um craque, Ele foi e continuará sendo O Virtuose dos virtuoses da bola!
Vieram ainda Carlos Alberto, Clodoaldo e Edu para abrilhantar aquele time, que se tornou a Filarmônica do futebol, tal a maestria, graça, beleza e objetividade que um time pode apresentar, não só aos seus torcedores, mas a platéia toda, que não raramente se rendia ao encanto, proporcionado por aqueles magos da bola!
O Fluminense sim, hoje demonstra que jogar futebol, não é apenas correr atrás, cercar o adversário, e se der marcar um gol numa bola bandida para sair arrotando uma supremacia, supremacia esta tosca e enganosa.
Mais Fernando Diniz e menos, muito menos, Parreira – Tite – Mano – Scolari – Cuca – Hellman(filósofos do futebol de resultado) e o superado e boquirroto pofexô!
Saudações Santistas!
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Linda mensagem
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Obrigado Sormami!
Nascer, Viver e no Santos Morrer é um Orgulho que Nem Todos Podem Ter!
Forte Abraço!
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Parabéns Sormani !! Demais esse texto👏👏👏
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Obrigado, amigo
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Parabens pelo Texto!!
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Obrigado, amigo
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Excelente
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Sormani, sou tricolor e digo, o Fluminense pode até não ganhar nada, mas o futebol jogado é muito mais bonito e vistoso do que foi até mesmo quando o Fluminense da Unimed foi bicampeão brasileiro.
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Boa tarde Sormami!
Tinha conhecimento disto:
https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/grupo-city-se-torna-acionista-majoritario-do-bahia/
Se eu não estiver pedindo muito, pode comentar?
Obrigado!
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Lindo texto Sormani!! Desde o primeiro ciclo de Diniz no Flu, eu ia ao “maior do mundo” com o olhar altivo e a certeza de que veria uma partida de futebol. E olha que naquele time, havia limitações técnicas muito maiores que o atual. E como não lembrar da música do canal 100 ao ver um jogo do Flu? Parabéns! Viva o Futebol!
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Caro Sormani, entendo que talvez por ter virado torcedor pelo Pelé sua relação com o jogo seja diferente,ou pela “experiência” da idade…Mas sinceramente acho bem saudosista e até utópico esse pensamento de “jogar bonito”,o futebol sempre foi esporte competitivo,não tem juíz avaliador de beleza ou nota, é vencer ou perder, qualquer torcedor vai preferir ver o seu time ser campeão constantemente como o Palmeiras do que simplesmente “jogar bonito” como o Fluminense de Diniz…se puder aliar os dois perfeito,porém no cenário atual e todas dificuldades que já conhecemos do cenário Sul-americano é utópico demais.Grande fala de muitos torcedores “não quero ter razão,quero ser campeão”… abraço!
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