Por Fábio Sormani
O assunto Santos/SAF está tomando conta da cabeça do torcedor santista nos últimos dias desde que surgiu a notícia de que a Qatar Sports Investiments (QSI) estaria interessada em aportar uma quantia em dinheiro no Santos. Quanto seria essa quantia? Não foi dito.
O que está sendo dito é que para que isso ocorra o Santos teria que se transformar em SAF, sem o que a QSI não vai entregar nenhum tostão furado ao clube. E como se sabe o presidente Andrés Rueda não quer fazer do Santos uma SAF. Por que não? Ele não diz.
Pelo que foi aprovado pelo Conselho Deliberativo e depois em uma assembleia de sócios não há motivos para Rueda temer entregar o Santos a um investidor, pois isso é o que o perturba demais. Não há motivos porque no modelo aprovado, o mínimo que o Santos tem que ter de uma SAF é 51% — consequentemente, o investidor ficaria com 49%.
Ou seja: jamais o Santos Futebol Clubes perderia o controle acionário e nem ficaria em desvantagem no momento em que tiver que tomar alguma decisão. Então, por que não transformar o clube em uma SAF? Rueda não diz claramente.
Pois bem, avançando no assunto, está sendo noticiado que a QSI pretende ter o controle inferior a 50% no Santos, indo ao encontro do que foi aprovado pelos sócios. Noticia-se o exemplo do que o grupo faz com o Braga, clube de Portugal, onde adquiriu exatos 21,67% das ações. Só que há uma grande diferença entre as intenções: em Portugal a QSI quer transformar o Braga em um clube de desenvolvimento de jogadores para o Paris Saint Germain (PSG), o principal ativo da empresa do Catar.
Por exemplo: se o PSG comprar o Marcos Leonardo e não quiser que ele logo de cara vá para Paris, o centroavante santista faria um estágio de um ano no Braga para se adaptar ao futebol e ao mundo europeu. É para isso que a QSI comprou parte das ações do time português. Para enfiar jogadores lá e amadurecê-los.
Extraí esse parágrafo do jornal português “Record”, leiam: “Ao Braga chegariam talentosos jovens craques da Europa e América do Sul de forma a progredirem rapidamente para, depois, poderem ser transferidos no âmbito desta rede, podendo vir a competir na Premier League ou na Ligue 1 e, sobretudo, na Liga dos Campeões”.
Entenderam? O objetivo com o Braga é um; com o Santos, seguramente, é outro.
Quem é o Braga na fila do pão? O que ele almeja no futebol? Que títulos já conquistou? Já dominou o mundo? Os portugueses servirão obviamente de barriga de aluguel para a QSI.
Agora, o que os catarianos querem do Santos é outra coisa. O Santos não vai maturar jogador para a QSI enfiar no PSG. Eles sabem muito bem o que significa a marca Santos Futebol Clube, um dos times mais conhecidos e vitoriosos do mundo e que um dia teve ninguém menos do que Pelé. Inestimável, não é mesmo?
O que a QSI quer do Santos, a meu ver, é seu potencial de faturamento como instituição esportiva, com vocação vencedora (títulos) e reveladora de jovens talentos (dinheiro). Eles querem essa empresa que tem potencial para geral receita na casa de R$ 1 bilhão. Exagero meu? Em 2011, por exemplo, com Neymar em um time competitivo que ganhou a Libertadores, o Santos teve o quarto maior faturamento do futebol brasileiro, atrás apenas de Corinthians, São Paulo e Internacional, e à frente de Flamengo e Palmeiras.
Ou seja: é possível ganhar dinheiro com a marca Santos Futebol Clube. Basta saber administrá-la. A QSI sabe disso; por isso está atrás do Santos, como o Grupo City já esteve e como bateu com a cara na porta da Vila Belmiro, fechou com o Bahia.
Por conta disso que expus acima, eu não creio que o desejo da QSI seja o de investir uma quantia para ficar com menos de 51% das ações do Santos e correndo o risco de ver esse dinheiro evaporar, como já aconteceu com a MSI e o Corinthians ou a ISL e o Flamengo, tudo porque o dinheiro dessas empresas ficou nas mãos dos amadores dirigentes que administravam esses dois clubes.
Por isso, a QSI, creio eu, não vai entregar nem um centavo sequer para o Santos administrar. Eles não são bobos, vão querer gerir o clube, como já fazem no PSG, que de ilustre desconhecido passou a ser uma das potências do futebol mundial. A vocação da QSI é essa: administração esportiva. Ela é do ramo esportivo, não há motivo para temer entregar o Santos ao grupo catariano. Seria a salvação para uma instituição que se apequena ano após ano.
O Santos tem potencial, mas é inexplorado porque míopes estão a comandá-lo. Vejam só: em 2021 o faturamento foi de R$ 407 milhões, época que as receitas foram provenientes basicamente do último ano da desastrosa gestão José Carlos Peres/Orlando Rollo. Se há dois anos o Santos faturou quase meio bilhão de reais sendo mal conduzido, imagina o quanto esse time pode faturar se cair nas mãos de gente competente?
Por tudo isso que expus anteriormente, acho muito pouco provável que esse negócio (nos moldes que está sendo apresentado) venha dar certo. O Santos precisa pensar muito nesse assunto. O momento é delicado. Um belíssimo cavalo encilhado está passando na porta da Vila Belmiro. Uma grande oportunidade se apresenta ao clube. Eu acho que o Santos Futebol Clube não pode deixar escapá-la, pois ela pode não aparecer novamente.
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