Por Fábio Sormani
Quem é mais chato: Abel Ferreira ou o torcedor do Palmeiras? Bom, essa é uma boa discussão. Mas vamos lá tentar responder essa questão.
O Abel é chato porque talvez ela queira, porque querendo ele canaliza contra si a cólera dos adversários, e é desse alimento que ele se nutre para desenvolver o seu trabalho que, diga-se, é irretocável.
O Palmeiras do Abel Ferreira é hoje o melhor time do Brasil sem ter o melhor elenco do Brasil. É melhor porque ele é fruto do intelecto de seu treinador, que é muito acima da média, mas que, ao que tudo indica, precisa dessa refeição para se nutrir, como disse, e consequentemente fortalecer seu time ainda mais.
Abel precisaria fazer isso? Creio que não, mas a gente que vive nesse mundo há tempos sabe que o mental forte é componente importantíssimo de times vencedores. E Abel sabe como sacudir seus comandados.
Parto, pois, do princípio de que o que ele faz é premeditado. Mas e se não for?
Bom, se não for, aí é um prato cheio para os estudiosos da mente, pois é preocupante que uma pessoa seja assim. E se for isso mesmo, deve ser muito difícil ser Abel Ferreira. Eu, por exemplo, não gostaria de sê-lo, pois o desgaste físico e mental são grandes demais e os títulos e dinheiro que ele ganha, para mim, não pagam essa conta.
Mas, enfim, isso é com cada um.
Vamos agora aos torcedores.
O torcedor, a gente bem sabe, é coração, é paixão pura. Seu time não pode ser contestado jamais. Se o for, ele perde as estribeiras.
Não bastam, para ele, os títulos conquistados e o futebol jogado com exuberância. Ele, torcedor, assim como o time em campo, quer os adversários a seus pés. O tempo todo.
Mas o Palmeiras ganha tudo, é o temor dos adversários, então, por que o torcedor se importa tanto com as críticas que por ventura são feitas ao seu time do coração? Porque a crítica, para eles, soa como uma derrota.
Mas crítica é sinônimo de derrota? Claro que não.
Perfeição não existe; unanimidade também não. Nem o Santos de Pelé venceu tudo o que disputou e nem Pelé é unanimidade mundial. Por que o Palmeiras tem que ser?
Se o torcedor entendesse isso (e isso é algo que o torcedor jamais vai entender) ele sofreria menos quando lê, ouve ou vê alguém criticando o comportamento do técnico Abel Ferreira, por exemplo. Como ele não entende, sofre; e quando sofre, reage — e de diversas maneiras, sendo a agressividade física ou verbal a mais preocupante.
Então, para não tomar muito mais de seu tempo, querido leitor, e também porque eu não sou Freud e nem Pelé, eu respondo: o Abel é mais chato que o torcedor palmeirense.
O Abel não precisava ser assim; o torcedor é assim e sempre será — seja ele do Palmeiras ou de qualquer outro time.
(Eu acabei de absolver o torcedor, mas ele vai me condenar porque eu critiquei o Abel e a crítica, para ele, já disse, soa como uma derrota ou perseguição, quando, em muitas ocasiões, deveria servir como ponto de reflexão.)