Por Fábio Sormani

Foi uma vitória para lavar a alma. Uma vitória, ou melhor, uma goleada para o santista colocar para fora tudo o que estava armazenado, reprimido, dentro do seu peito: 4-1 no Vasco, um Vasco que estava, merecidamente, sendo paparicado pela mídia. Afinal, o cruz-maltino vinha de três vitórias seguidas, duas delas goleadas sobre o forte Fluminense (4-2) e Coritiba (5-1).

Antes de a bola rolar na Vila Belmiro nesse domingo (01/10), muitos apostaram no empate; outro tanto até mesmo num triunfo do Vasco. Deu Santos — que foi acreditado, penso eu, conversando com muitos, apenas pelos apaixonados torcedores santistas. Mas deu Santos. E de goleada, como disse.

Foi a segunda vitória consecutiva do Santos neste Brasileiro. Isso não acontecia havia um turno. Sim, um turno, pois a última vez que isso ocorreu foi no primeiro turno quando o Santos bateu o Bahia, na Vila, por 3-0, e o Vasco pela contagem mínima, em São Januário. Como eu disse, hoje, depois de um turno, o Santos ganhou do Bahia por 2-1 (na Fonte Nova em Salvador) e goleou o Gigante da Colina por 4-1 diante de seus torcedores: duas vitórias seguidas.

Por falar em goleada, a última vez que o Santos goleou alguém foi a Portuguesa no Campeonato Paulista deste ano: 4-0 na mesma Vila Belmiro no dia 19 de fevereiro passado. Mas se você quer uma goleada sobre um grande do futebol brasileiro, eu te entendo. Então vamos lá: a última escovada do alvinegro praiano diante de um dos grandes do futebol brasileiro ocorreu em 16 de dezembro de 2020 quando venceu o Grêmio por 4-1 na mesma Vila Belmiro em jogo válido pela Libertadores. Demorou, pois, 245 jogos para o Santos golear novamente um time grande do nosso futebol.

E a espera valeu a pena.

Por que essa goleada veio? Foi obra do acaso? Presente dos deuses do futebol? Nada disso: ela veio por conta do trabalho do técnico Marcelo Fernandes, chamado carinhosamente pelos torcedores de Presuntinho por causa do seu excesso de peso. Marcelo, um ex-zagueiro razoável do Santos, mudou a cara do time usando seu intelecto e seu trabalho de campo.

Mexeu com o anímico dos jogadores. Deu confiança ao grupo. Uniu os atletas. Deixou o ambiente leve. Trouxe felicidade e prazer de trabalhar ao elenco, o que não ocorria até então.

Além disso, na parte tática, mudou a equipe. Ao invés de dois zagueiros, como vinham usando Odair Hellmann, Paulo Turra e Diego Aguirre, passou a usar uma linha de três atrás. Mas não três zagueiros; na verdade dois, sendo que o terceiro foi o lateral-esquerdo Dodô. Três atrás que possibilitou o lateral-esquerdo Kevyson atuar como um ponta pela esquerda, pois a saída de bola por aquele setor era feita com Dodô. Kevyson transformou-se num ponta também porque Soteldo 1) contra o Bahia, afunilou e jogou muito mais pelo meio do que aberto; 2) diante do Vasco foi mais um ponta pela direita, embora sua posição seja um extrema pela esquerda.

Some-se a isso o fato de que o time passou a jogar com apenas um volante (Rincón) e dois meias criativos na armação que ajudavam muito na marcação (Jean Lucas, principalmente, e Lucas Lima). O time ficou tinindo, embora Lucas Braga, como ala pela direita, ainda deva boa exibição. Mas na frente Soteldo e Marcos Leonardo formam uma dupla que se completa como Lennon e McCartney.

A goleada diante do Vasco tirou o Santos da zona do rebaixamento depois de sete rodadas. O Santos lá entrou na rodada 18 deste Brasileirão, quando empatou com o Athlético-PR em casa em 1-1. Esse atropelo diante do Vasco colocou o Santos na 15ª posição, com 27 pontos ganhos, um a mais que o Goiás, o primeiro da zona do rebaixamento.

Tem muito campeonato pela frente. Para ser preciso, mais 13 rodadas. Portanto, como se vê, nada está resolvido. Mas o time, hoje, está confiante. E essa confiança contagiou o presidente Andrés Rueda, o apocalíptico, e o coordenador de futebol, Alexandre Gallo. Depois da vitória sobre o Vasco a mídia e, consequentemente, os torcedores foram informados de que Marcelo Fernandes foi efetivado até o final desta temporada.

Nada mais justo, pois, como vimos, o “Presuntismo” transformou o Santos. Mudou-o da água para o vinho. Hoje o Santos é o Yang (a luz); ontem era o Yin (a escuridão) — embora na filosofia chinesa essa dualidade coloque o negativo em casamento com o positivo, mas, se levarmos para o futebol, o que é o caso, esse casamento jamais será celebrado.

Domingo próximo (08/10) o adversário será o Palmeiras, em Barueri, pois seu Alianz Parque será palco de um espetáculo musical. O Santos não terá Soteldo e Dodô (ambos advertidos pelo terceiro cartão amarelo) e Lucas Lima (expulso). Farão falta, especialmente, na minha opinião, Dodô. No lugar do Lucas Lima entrará Nonato; na vaga de Soteldo, penso eu, Morelos — espero que Marcelo Fernandes não opte pelo centroavante Julio Furch, pois o ataque perderá a mobilidade que tem com Soteldo, e terá com Morelos. Mas na vaga de Dodô não há substituto. Se quiser manter o trio defensivo, a saída é Messias, pois não vejo ninguém capaz de fazer essa trinca defensiva, a menos que ele opte por testar João Lucas ou Inocêncio como um dos zagueiros, mas, sinceramente, não acredito.

Vamos aguardar por esta semana. Vamos aguardar pelo que Fernandes vai fazer. E o que ele fizer terá a aprovação de todos os santistas, pois se o Santos hoje mudou, se o Santos hoje é um novo time, isso tem a ver com Marcelo Fernandes. Ou com o “Presuntismso”, se você preferir.